"O nosso maior adversário é a falta de tempo" 

ANTEVISÃO

Sem desculpas e sempre para ganhar: é assim que Bruno Lage encara a forma como o Benfica vai disputar a Supertaça Cândido de Oliveira nesta quinta-feira, 31 de julho, frente ao Sporting, a partir das 20h45, no Estádio Algarve.

Antes de iniciar a conferência de imprensa, Bruno Lage fez questão de abordar as saídas de Lourenço Coelho (Diretor-Geral para o futebol), Ricardo Lemos (Diretor de Comunicação para o Futebol Profissional), e as entradas de Mário Branco (Diretor-Geral para o futebol), Simão Sabrosa (Diretor Técnico para o Futebol Profissional) e de Gonçalo Guimarães (Diretor de imprensa).

"Primeiro, excelente entrada do Gonçalo [Guimarães], mas, antes de falar do Gonçalo – acho que era oportuno e antes do Fredrik [Aursnes] falar –, falar do Ricardo Lemos. Foi um grande companheiro que aqui esteve. Enquanto profissional vocês conhecem-no, enquanto ser humano ele dá-se pouco a conhecer, e só poucos é que o conhecem, e eu tive a oportunidade de o conhecer. Desde já, foi um enorme prazer trabalhar com ele e desejar-lhe as melhores felicidades. Assim como, desejar-lhe as melhores felicidades ao Gonçalo [Guimarães] neste posto. Já sabe que este é um posto de guerreiros, e está pronto para a guerra. Aproveitar também para enviar um abraço ao doutor Lourenço [Coelho]. Nós já éramos conhecidos e amigos, mas, realmente, trabalhar diariamente com ele foi, realmente, um privilégio. Pude confirmar tudo aquilo que diziam sobre ele. E, nesse sentido, também dar as boas-vindas ao novo diretor, Mário Branco. Também nestas duas, três semanas, tem sido incansável para nos ligarmos o mais rápido possível, e para fazermos um trabalho muito bom ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. Também, claro, aproveitar e dar as boas-vindas também ao Simão Sabrosa. Como visto, as respostas sobre o mercado foram dadas, já falei de saídas e de entradas", começou por afirmar.

Tendo em conta a pré-época atípica com poucos jogos, e se calhar pegando no que sentiu com o jogo da Eusébio Cup, pergunto-lhe em que momento é que sente a equipa. Como é que está a equipa?

O momento é fácil de explicar. Nós temos, com o dia de hoje, 14 dias de trabalho, dois jogos de treino, no entanto, temos um jogo com um adversário muito competente. É um troféu que queremos vencer, mas, neste momento, também o nosso maior adversário é o tempo, ou a falta dele. A falta de tempo para descansar de uma época longa e de um Mundial, a falta de tempo para fazer uma pré-época ideal, mas isso não vai servir de desculpa aqui dentro, vai ser sim... é mais um adversário que nós temos de vencer.

Já venceu uma Supertaça ao Sporting, por 5-0 [2019]. Perguntar se esse jogo serve de inspiração e se, por aí, essa inspiração vai passar por Florentino a titular, uma vez que é o único que resta dessa equipa?

É verdade... é o Tino [Florentino]. O mais importante é nós olharmos para o futuro, e queremos vencer o primeiro troféu da época.

Pergunto diretamente se está desiludido por não ter [João] Félix, satisfeito por não ter Gyökeres no outro lado e descontente por ter Fábio Veríssimo como árbitro.

Olhe, boa entrada. Primeira pergunta, sobre o jogador [João Félix], vocês sabem que eu conheço muito bem o jogador, mas ele não está connosco, por isso, se querem que eu fale do João, têm de me perguntar sobre o João Rego e sobre o João Veloso. E o Félix que eu vou falar é sobre o Nuno [Nuno Félix]. É um atleta em que acreditamos muito, tínhamos muitas e temos muitas expectativas sobre ele, mas foi com imensa pena que o perdemos por lesão. Relativamente à arbitragem, aquilo que eu quero e acho que é o mais importante... acho que é o maior elogio que se poderá a fazer ao árbitro Fábio Veríssimo, é que no final do jogo se falem dos verdadeiros artistas que são os jogadores. Depois, nós estamos mais preocupados com aquilo que controlamos. Temos 14 dias de trabalho, estamos à procura daquilo que é a melhor forma, a dinâmica com os novos jogadores, para jogar com a qualidade que eu sinto que esta equipa pode jogar.

Esqueceu-se de Gyökeres...

É isso, nós preocupamo-nos mais com aquilo que controlamos.

A temporada passada acabou com alguma tensão entre Benfica e Sporting, até porque disputaram os dois títulos até ao fim, com comunicados de parte a parte, farpas lançadas uns aos outros. Eu gostava de lhe perguntar se, em vésperas da Supertaça, este comunicado que o Benfica fez ontem [29 de julho] sobre [o árbitro] Fábio Veríssimo, se era necessário ou se se podia evitar aqui alguma tensão em vésperas de iniciar a nova temporada?

Vou repetir aquilo que acabei de dizer que o mais importante, e que o elogio para amanhã para o árbitro Fábio Veríssimo, seja falar do jogo, falar dos jogadores, falar dos verdadeiros artistas. Isso é que é o mais importante. É a arbitragem de amanhã e é o futuro.

A pergunta que lhe faço tem a ver com a equipa e também com os reforços. Vamos esperar um Benfica, da sua parte, diferente em relação à temporada passada, até por algumas das características dos jogadores que têm vindo a ser contratados? É uma mudança daquilo que quer para as ideias desta temporada em comparação com a época passada?

Nós estamos sempre à procura da construção e da evolução de algo. Nós falámos ao longo do ano que sentíamos que havia momentos do jogo em que tínhamos de evoluir e que esses momentos do jogo não evoluíam apenas com treino. Tínhamos de fazer algo mais para fazer essa evolução no momento do jogo que nós queríamos. Uma, vocês já fizeram a pergunta, ao Fredrik [Aursnes], sobre a agressividade. A outra foi o tema, durante o ano, o controlo do jogo com bola. Acho que já demos, principalmente na primeira parte [frente ao Fenerbahçe]... demos mostra daquilo que esta equipa pode crescer nesse momento. É o nosso maior adversário, é nós, entre os jogos... receber todos os jogadores, prepará-los da melhor forma e ir ao encontro da forma de jogar que eu acredito que esta equipa pode jogar.

Pegando também nesta ideia da forma como quer que o Benfica jogue, e sabemos que não haverá João Félix, há Ivanovic, é outro grande investimento do Benfica, está a pensar em apostar num 4-4-2 e, eventualmente, atribuir a Ivanovic um papel que, noutros tempos, foi de João Félix, consigo na primeira passagem?

Olhe, sobre o Ivanovic é um jogador que conheço muito bem, mas ainda não é jogador do Benfica. Muito mais importante do que o desenho que possamos ter em campo – e aqui a questão que vocês fizeram muito bem ao Fredrik, porque o Fredrik desempenha várias posições, mas, por vezes, desempenha várias posições com funções semelhantes – é nós irmos todos ao encontro uns dos outros, das minhas ideias e daquilo que são as características dos jogadores e das funções que eles possam ter no onze. E isso, neste momento, nós estamos a construir o plantel para termos aquilo que eu acredito sempre: ter competitividade interna, que é muito importante, termos várias soluções para, a todo momento – e vocês verificaram isso na época passada – independentemente do sistema, nós sermos assertivos na estratégia. Passá-la, de uma forma bem clara, para os nossos jogadores, e eles poderem desempenhar em campo da melhor maneira.

Acha que vai conseguir blindar o balneário neste ambiente de politiquices? Ou será que é refém do Presidente Rui Costa, ou o Presidente Rui Costa refém de si? Já agora, se pondera amanhã [quinta-feira, 31 de julho] apresentar-se em campo sem os jogadores da equipa principal, como forma de protesto pelo não adiamento da data da Supertaça?

Eu tenho plena consciência dos tempos que aí vêm, e até em jeito de brincadeira posso-lhe dizer que sei muito bem qual vai ser o "estado do relvado" nos próximos jogos. Como falei o ano passado, vou tentar não entrar no ato político, mas há uma linha que eu vou traçar desde já. Independentemente de quem seja, se houver algum ataque aos meus jogadores e à minha equipa, eu não vou deixar passar essa linha. Por isso, quem quer que seja que ataque o treinador, não tem problema, faz parte do trabalho, faz parte de estar aqui e servir o Sport Lisboa e Benfica. No entanto, qualquer ataque, independentemente de quem seja, que chegue à equipa, que chegue aos jogadores, vão ter de levar comigo.

E sobre o adiamento da Supertaça? Se pode apresentar uma equipa sem jogadores da equipa principal como forma de protesto...

Sobre a data do jogo, a única coisa que me preocupa é a saúde dos nossos jogadores, e isso preocupa-me desde a primeira hora, e nós nestas duas primeiras semanas, infelizmente, já perdemos dois jogadores por lesão. É difícil para mim, enquanto treinador, olhar para um miúdo como é o Nuno Félix, e ter de lhe dizer que tem uma lesão prolongada e que não vai jogar pelo Benfica, quando trabalhou quase toda a sua juventude para aqui chegar. Também é difícil para nós chegarmos perto do Bruma, que chega novamente a um patamar de excelência na sua carreira, com 30 anos, e dizer que vai ter de adiar este sonho de ajudar a equipa, como ajudou no ano passado. Mas pronto, eu sou treinador do Benfica, os homens que eu lidero são os jogadores do Benfica, por isso, onde quer que seja, a hora, o local, nós vamos jogar e vamos jogar para ganhar.

Queria-lhe perguntar se acha que amanhã, muito mais do que jogar a Supertaça, neste arranque de temporada, se vai estar a jogar o futuro do Benfica nas próximas eleições?

Não. Vamos jogar um jogo de futebol.

Kökcü acabou por sair neste mercado, depois também da confusão consigo no Mundial de Clubes. Pergunto-lhe se esta saída era inevitável? E já agora também tinha falado em mudanças que eram necessárias fazer no Benfica, pergunto-lhe se já tem algumas dessas mudanças feitas. 

A minha intenção era falar de mercado, e aproveito a sua questão, no final. Começo a adiar perguntas logo na primeira [conferência de imprensa], mas quando terminar o mercado aqui estarei para responder a todas as perguntas. No entanto, não posso também deixar de dar alguma matéria para vocês trabalharem sobre o assunto, e perceberem que o nosso mercado tem em linha de conta estes seguintes pontos: primeiro, jogadores lesionados; segundo, jogadores em final de contrato e em final de empréstimo, jogadores vendidos e o reforço da equipa. Por isso, é sobre estes quatro pontos que estamos a fazer o nosso mercado. Sobre o Kökcü, tivemos uma excelente relação, como disse, surgiu uma oportunidade boa para o Clube e boa para ele, manifestou vontade de sair, saiu, e nós tivemos de encontrar um jogador que o pudesse substituir.

Terminou a época a nível nacional a jogar com o Sporting, entretanto o Sporting já teve vários jogos de preparação. O que viu no rival que mudou e que pode dificultar a tarefa do Benfica, especialmente aqui a nível tático, há algumas dúvidas, como é que o Sporting de Rui Borges se vai apresentar amanhã, o que o Bruno Lage espera?

Espera um adversário muito competente, uma equipa técnica competente, um adversário competente, com excelentes jogadores, mas, neste momento, o nosso maior adversário é o tempo e é esse tempo que nós vamos ter de vencer.

Só para terminar, que tipo de ambiente é que espera, sobretudo após aquilo que se viveu no sábado [26 de julho] no Estádio da Luz, na Eusebio Cup. Agora, claro que é um jogo diferente, um campo neutro, que tipo de ambiente é que espera?

Um jogo de grandes emoções e claro, o apoio dos nossos adeptos. Foi incansável o apoio dos nossos adeptos ao longo da época, no Mundial de Clubes estiveram presentes, fizeram-se ouvir, apoiaram-nos e uma vez mais, em casa, no jogo da Eusebio Cup, foi realmente um ambiente fantástico. Onde nós tivemos a oportunidade de colocar em campo todos os jogadores que têm estado ao nosso serviço, por isso acredito que amanhã será mais um bom exemplo dos nossos adeptos estarem presentes e ajudarem no jogo e a vencer o troféu.